Por Equipe Preta Rara
Sou Joyce Fernandes, a rapper Preta Rara, e, em 19 de julho deste ano, relatei no Facebook alguns abusos sofridos na época em que eu era empregada doméstica. Em menos de uma hora após a publicação, recebi uma enxurrada de mensagens e criei a página #EuEmpregadaDoméstica, que ultrapassa 130 mil seguidores, para divulgar os mais diversos tipos de humilhações e agressões – física, moral e psicológica – sofridas cotidianamente por muitas empregadas domésticas no país.
Chegou a hora da nossa voz ecoar e de reunir esforços para que sejam publicados alguns dos mais de 4 mil relatos recebidos, em formato de um livro autêntico, escrito pelas domésticas como protagonistas de suas próprias histórias. Caso a campanha ultrapasse a meta inicial, será gravado um documentário inédito, para dar rosto e vozes aos relatos, até então anônimos. Contribua, divulgue, compartilhe e espalhe pra geral, conheça a nossa campanha!
O livro
A trajetória da rapper Preta Rara será contada por meio de uma narrativa desenvolvida em dois planos de ação, espaço e tempo: vozes por detrás dos relatos recebidos ilustram o plano da ‘realidade’, em paralelo ao plano do universo psicológico dos desejos e pensamentos. A narrativa contará quem são essas mulheres e como lidam com as suas relações sociais e familiares.
Em determinados momentos da história não será possível distinguir se a história pessoal da rapper é a de sua própria mãe, ou de outras personagens ilustradas pelos traços da grafiteira Nenê Surreal. O universo psicológico dos desejos e pensamentos das personagens serão criados pela artista plástica Ana Maria Santana, cujo desenho possui influência cubista abrasileirada pela arte naif.
O documentário
Já o documentário será a voz de algumas mulheres que enviaram seus relatos para o e-mail da página. Também será registrado como foi o processo de construção do projeto ‘Eu Empregada Doméstica’ e sua rápida repercussão nacional e internacional.
A voz de cerca de 6 milhões de brasileiras ecoará e será ouvida, talvez pela primeira vez na história recente do país, que abriga a segunda maior população de descendentes de africanos em diáspora, porém alimenta um traço enraizado em sua cultura que vitima e condena milhões de brasileiros: o racismo cotidiano ‘naturalizado’ e institucionalizado em praticamente todas as esferas das relações sociais brasileiras.
Preta Rara
A santista Joyce Fernandes (31 anos) trabalhou como empregada doméstica durante sete anos e se formou em História após frequentar a Educafro. Virou turbanista, dona de marca de roupas e uma mulher capaz de reunir milhares de admiradores nas redes sociais. Começou a cantar na igreja aos 12 anos e, em 2013, já como Preta Rara dividiu o palco com o rapper Criolo, e a partir de então, foi convidada por outros artistas, como BNegão, DiMelo, Nanny Soul.
Como militante, participa de grupos de discussões sobre feminismo, cultura negra e gordofobia. Em sua trajetória recebeu premiações, com destaque para o Prêmio Jovens Pensadores (Governo Estadual), a Medalha Theodosina Ribeiro (ALESP), Troféu Zumbi dos Palmares (Conselho da Comunidade Negra de Santos).