Cadeia Velha: Público dos museus do Centro é um terço do Aquário

Ponto histórico da povoação de Santos, a área central contempla quatro museus num raio de dois quilômetros quadrados. O público dos quatro museus juntos ao mês (22,5 mil visitas) equivale ao do Orquidário (22,4 mil) e a um terço do Aquário (65,7 mil). Mesmo com a falta de público em comparativos, e também de raras atividades artísticas, ainda há a possibilidade de haver um quinto equipamento museológico no bairro: a Cadeia Velha. Pode se tornar Museu da Baixada Santista o principal edifício dos séculos 19 e 20 – que abrigava os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário do município.

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01Esta não é a primeira tentativa de modificar a vocação da Cadeia Velha, que nos últimos 30 anos se tornou num polo de formação de artistas como a Delegacia Regional de Cultura e, depois, Oficina Cultural Pagu. Outras duas vezes o Poder Público não conseguiu apoio da comunidade. Agora, apesar da suposta vontade política, um grande dilema é a falta de demanda de público e de atividades culturais nos demais museus do Centro.

O raciocínio é simples. Se não há o hábito de visitação e atrações nestes lugares, por que seria diferente no caso de um futuro museu nas proximidades? Tal situação demonstra que o prédio centenário fechado para reformas pode ser reaberto como um grande “elefante branco” se não houver um diálogo entre Poder Público, classe artística e comunidade sobre seu projeto de uso. Confira a situação dos demais patrimônios ao seu entorno:

Museu do Café: 15 mil visitas/mês
Rua XV de Novembro, 95 | Terça a sábado, das 9h às 17h | R$ 3 a R$ 6

05Erguido em 1922 para nortear os preços do café enquanto principal produto de exportação brasileira, a Bolsa do Café teve suas atividades encerradas nos anos 60. A casa de propriedade estadual foi reinaugurada como museu em 1998 e, atualmente, tem gestão do Instituto de Preservação e Difusão da História do Café e da Imigração. Aliás, a mesma entidade sondada para dar continuidade à ocupação da Cadeia Velha.

A cafeteria e loja de souvenirs vivem a receber os empresários do entorno e turistas pela proximidade dos terminais portuário, rodoviário e da linha de bonde. Já alcançou 1 milhão de visitantes e recebeu entre dezembro de 2014 e fevereiro de 2015 cerca de 54 mil visitas (15 mil por mês).

Também há uma equipe preparada para visitas monitoradas, mas a sua mostra é permanente. Se não há rotatividade de exposições, a programação consta com um show musical por mês e raras apresentações. Neste trimestre, ao todo, foram só cinco atrações artísticas.

Museu Pelé: 5,4 mil visitas/mês
Lg. Marquês de Monte Alegre | Terça a domingo, das 10h às 18h | R$ 9 a R$ 18

06O tão esperado projeto de guardar o acervo do Rei do Futebol ainda não tem estabilidade financeira. Prejuízos são alardeados pela imprensa e preocupa a atual gestora Ama Brasil. O local é situado nos antigos casarões do Valongo, bem em frente ao restaurante-escola e uma das mais frequentadas igrejas da Região, o Santuário de Santo Antônio do Valongo. Foi inaugurado em junho do ano passado, com objetivo de atrair os fãs da Copa do Mundo.

O local mantém bar, cafeteria e tem um enorme acervo interativo, em caráter permanente. Focado no esporte predileto dos brasileiros, não contém programação artística. Durante os dez meses, recebeu 57 mil pessoas. Entre dezembro de 2014 e fevereiro de 2015, alcançou 16,4 mil visitantes (5,4 mil visitas ao mês). O número é muito aquém do esperado (1,2 mi de frequentadores por ano) e a instituição mantém déficit na receita.

Casa do Trem Bélico: 1,5 mil visitas/mês
R. Tiro Onze, 11 | Terça a domingo, das 11h às 17h | Grátis

04Mais antigo prédio público de Santos de 1640, a Casa do Trem Bélico abrigava desde seu início armas e munições. Nos tempos coloniais, para a proteção da Cidade. Atualmente, para preservar a história da região e do País. O prédio é o mais distante do comércio e do fluxo de turistas nos terminais da Cidade, mas é passagem da linha de bonde.

Até mesmo um de seus funcionários se veste de soldados e corneteia para os passageiros do tradicional veículo conhecerem a casa. Provavelmente é o espaço que mais contempla atividades artísticas, já que recebeu ano passado por um semestre o programa Trem Cultural, com apresentações de teatro e dança. Mesmo assim, não mantém bons índices de público em relação a outros equipamentos.

Reformada em 2009, ele conserva em seu piso superior a mostra permanente de Armamentos Históricos, com 170 peças usadas pela infantaria brasileira, desde os tempos do Brasil Império, como objetos também da Revolução de 32. Por ano, apenas 7 mil pessoas visitaram a mostra, segundo a Prefeitura. Ao mesmo tempo, ela citou ano passado que 18 mil pessoas frequentaram a casa (1,5 mil pessoas por mês).

Palácio Saturnino de Brito: até 5 mil visitas/ano
Av. S. Francisco, 128 | Terça a domingo, das 11h ás 17h | Grátis

03Construído no final do século 19 como Repartição de Saneamento, o prédio mantém hoje a Unidade de Negócio da Sabesp na Baixada Santista. Mantido pela estatal, o local tem suas características originais conservadas, além de conter os móveis usados pelo patrono da Engenharia Sanitária, Saturnino de Brito, o idealizador dos canais e da organização urbana de Santos.

De maneira interativa, o museu preserva objetos sobre esta engenharia e painéis interativos sobre a construção da rede de esgoto e de abastecimento de água na Baixada Santista. Apesar de estar próximo da rodoviária, do comércio e ser ponto da linha turística do bonde, o público não frequenta muito o espaço e muitos da Cidade ainda o desconhecem. Entre 2009 e 2012, foram 13 mil visitas, cerca de menos de 5 mil visitas ao ano.

*Lincoln Spada