Kalenin Pock Branco: ‘Queremos difundir a ideia da cultura maker em SV e região’

“A nossa ideia é trabalhar com um laboratório maker em São Vicente e Região, como a maioria das pessoas já conhecem envolvendo tecnologia e outras ferramentas”, afirma Kalenin Pock Branco, do Crie Aqui. O seu depoimento aconteceu em junho, no Museu Pelé (Santos), durante o LAB.IRINTO, encontro internacional sobre de laboratórios de cultura livre e iniciativas cidadãs realizada pelo Instituto Procomum.

O Crie Aqui tem como objetivo: disseminar a filosofia MAKER e oferecer a todos sempre uma estrutura apropriada e dedicada à criação, ser referência em laboratórios digitais e, finalmente, fazer de tudo para que seus sonhos se tornem realidade e que seus projetos deixem de ser apenas projetos, para se tornarem produtos dos quais vocês terão orgulho de mostrar e dizer “Fui eu que fiz!”. Ele está localizado na Rua Coripheu de Azevedo Marques, 49, São Vicente.

“Trata-se de uma organização familiar. Sou professor na área de engenharia e meus filhos também, entendemos o processo maker como fator educativo, como forma de partilhar o conhecimento com a comunidade. Isso vai transformando as pessoas, potencializando-as e trocando experiência com as novas gerações. Por essa característica acadêmicas, já realizamos projetos junto da USP com objetivo de desenvolver material de impressoras 3D”, comenta Kalenin. Conheça o projeto em: http://www.crieaqui.com/portal/

*Lincoln Spada

 

Documentário busca relatos para ‘Raul Soares – Histórias que não se apagam’

A equipe do documentário Raul Soares – Histórias que não se apagam, convida pessoas que conhecem histórias de quem foi preso no navio Raul Soares à compartilhar seus relatos: “Entre em contato com a produção através de mensagem inbox na página Raul Soares – Histórias que não se apagam. ou pelo e-mail: ferreirafilmesprodutora@gmail.com”.

O documentário ‘Raul Soares – Histórias que não se apagam’ é uma produção da Ferreira Filmes em co-produção com o Comitê Popular de Santos pela Verdade, Memória e Justiça, com Patrocínio da Prefeitura Municipal de Santos através do IV edital Facult 2014. O documentário tem objetivo de reunir depoimentos de especialistas, vítimas, familiares e personalidades que vivenciaram tais momentos, procuramos revelar uma fase da história de Santos, que apesar de estar tão próxima a nós temporalmente, é esquecida pela população.

A História

Santos, antes da ditadura militar cercear seus direitos políticos, era conhecida e temida como uma cidade tradicionalmente oposicionista, tanto que no início da década de 60, movimentos políticos ou trabalhistas levavam multidões às ruas e praças em forma de protesto. A participação e mobilização do povo era grande, vibrante e ativa, justificando a frase que estampa o brasão da cidade “Patriam Charitatem et Libertatem Docui”, que traduzida do latim significa “À pátria ensinei a caridade e a liberdade”. Tal rebeldia ante as imposições à cidade e sua força de oposição levaram Santos a ser conhecida como Cidade Vermelha e República Sindicalista. Alguns dos conspiradores do Golpe de 64 acreditavam que Santos era dominada pelos comunistas e que fuzis e metralhadoras eram armazenados nas sedes dos sindicatos, o que a categorizou como uma cidade extremamente perigosa.

02Devido ao perigo iminente e as constantes greves que paralisavam Santos e colocavam em risco os planos da revolução, não só na cidade, mas também em todo o Estado, e talvez, até mesmo em todo o país, o Regime Militar decidiu aumentar a repressão, fazendo aportar no canal do Estuário, no dia 24 de abril de 1964, o navio Raul Soares, que veio a fim de suprir a falta de presídios na cidade.

Mais que um navio-prisão, o Raul Soares simbolizava uma agressão psicológica, uma forma de atingir o orgulho santista. Trazido à Santos por Bierrenbach, o navio-prisão era temido pela prática de torturas, em sua maioria psicológicas. Dentre as inúmeras torturas era comum os prisioneiros serem libertados, mas, ao chegarem à terra firme, terem suas prisões novamente decretadas. Esse tipo de tortura fazia com que sua estima e orgulho simplesmente desaparecessem. A sensação de finalmente saber que será libertado, após dias, semanas ou até mesmo meses de prisão e tortura por um crime que muitos ali não cometeram, e depois quando finalmente estiver livre ter sua prisão novamente decretada, era um jogo que humilhava os prisioneiros, acabando com suas esperanças e por vezes com sua resistência.

Eram utilizadas outras formas de tortura que além de desestabilizar o prisioneiro psicologicamente, o atingia fisicamente também. Dentre as principais, o prisioneiro era trancado na caldeira do navio, que chegava a 50º e depois levado ao frigorífico, realizando um choque-térmico, esse caminho do calor extremo ao frio extremo era feito diversas vezes, muitos prisioneiros saiam de lá fisicamente debilitados; outra forma de tortura era deixar o prisioneiro preso em uma sala constantemente alagada, onde eles ficavam com água gelada até a altura dos joelhos; e a principal tortura era prender o prisioneiro em uma cela onde eram jogadas suas fezes, esse tipo de tortura era feita aos mais resistentes, era considerada a tortura máxima. Também eram realizadas torturas especiais, destinadas a um prisioneiro específico, dentre as mais violentas, estava a tortura ao prisioneiro Tomochi Sumida.

Todas as sextas-feiras o tenente-coronel Sebastião Alvim ia ao navio para colocar Sumida dentro de uma geladeira. De duas em duas horas, soldados armados com metralhadoras abriam a porta durante dez minutos para entrar ar e a fechavam novamente. A coisa se repetia o dia inteiro. À noite, quando se retirava do imundo navio, o tenente-coronel do Exército ia de rosto alegre, satisfeito por ter cumprido sua gloriosa missão militar, o resfriamento do Sumida (ALEXANDRINO; SILVA, apud GATTO, 1988, p. 20). Como forma de descontrair o ambiente, os prisioneiros compunham músicas para ironizar os guardas, o coronel e a repressão. Também apelidavam as celas de tortura, que recebiam nomes de El Maroco, Nigth and Day e Casa Blanca, famosas casas noturnas do cais.

*Eduardo Ferreira