‘Pensei no aspecto patrimonial (da Cadeia Velha)’, diz Marcelo Araújo

Quatro anos repetidos em quatro horas. Ao descer a Santos na noite desta quarta-feira (dia 6), o secretário estadual da Cultura, Marcelo Mattos Araújo refez seu itinerário pela Cidade desde 2011. Em seus passos, não cogitou visitar as Oficinas Culturais Pagu, avistou de relance a imponente Cadeia Velha, acenou para o secretário municipal da Cultura, e sorriu pelos salões do Museu do Café. Antes de se encontrar com os artistas no Teatro Guarany, na Praça dos Andradas, notou a vizinha cadeia mais uma vez, agora, sem um plano exato para ela.

Ou com um plano, mas cavaleiro à moda antiga, o museólogo cede a vez. “Vocês foram muito felizes ao relembrarem a importância histórica do edifício e que este diálogo é constante, esta não é a primeira vez que se discute a utilização desse espaço”, refere-se à carta inicial dos fazedores de arte. “Estou pronto para ouvi-los”. Encurva-se para observar um a um no microfone, e um pouco mais a anotar as suas próprias observações.

02Há quem defenda as Oficinas Culturais, há quem defenda a ocupação de grupos e festivais, há quem defenda a preservação e o espaço museológico. Conceitos, à medida do possível, repetidos de modo didático nas intervenções do secretário. “Existe um consenso entre os presentes na questão de um centro integrado de artes e de preocupação com o patrimônio”, constata, apontando que “a Cadeia Velha é um equipamento arquitetônico único e, de sua época, o mais importante e representativo do Estado de São Paulo”.

O elogio é uma das raras mudanças de timbre durante a audiência pública sobre a discussão do edifício. Na maioria do tempo, sua fala é tão discreta quanto seus passos, a ponto de entrar e sair pelo teatro despercebido pelos presentes. No palco, circula perguntas-chaves, reconhecendo as poucas vezes que não utilizou dessa virtude.

01Questionado sobre o que esperava da Cadeia ao fechá-la para reforma, “pensei em seu aspecto patrimonial, pela relevância histórica, e conversei tanto com a Secretaria Municipal da Cultura, quanto com o Inci (organização que gerencia o Museu do Café) sobre as possibilidades para potencializar este aspecto”. Nas duas vezes nestes anos, o outro lado disse à imprensa o que ele imaginava. No entanto, agora, ele não o disse.

“Não, não existe um programa da lista de ações da Secretaria de Estado da Cultura que seja específico para fomentar centros de ações integradas. Não é o propósito das Oficinas Culturais esta finalidade, mas a de formação artística”, com uma resposta a entender que será necessário alguns meses para refletir qual melhor gestão para o espaço.

Portanto, para atender o anseio da comunidade – como, de fato, é seu compromisso como gestor público –, Marcelo precisará refletir sobre uma gestão híbrida. Adequar dois ou mais programas estaduais, e, respectivamente as organizações sociais envolvidas, como a Poiesis que administra as Oficinas Culturais. Ou estar em consenso com um programa governamental e um departamento regional ou municipal de cultura. “Estudarei mais nestes dois meses”, quase sussurra antes de fechar a porta do carro rumo à capital.

*Lincoln Spada