Festival Arte e Trabalho: Oficina ‘O mundo do trabalho na Literatura Portuária’

Por Alessandro Atanes

Chamada de “Barcelona Brasileira” ou “Moscouzinha Brasileira” devido à força do movimento operário na cidade ao longo do século XX, a cidade de Santos também conta com uma farta produção literária que trata deste aspecto da cidade. Para falar sobre o assunto, o jornalista e mestre em História Social Alessandro Atanes realiza na próxima sexta-feira, dia 5, a oficina “O mundo do trabalho na Literatura Portuária”, na Casa da Frontaria Azulejada, a partir das 19 horas.

Atanes é o autor do livro “Esquinas do Mundo: Ensaios sobre História e Literatura a partir do Porto de Santos” (Facult/Dobra Editorial, 2013), em que trata poemas e romances como fontes históricas para estudar a cidade, além de relacionar Santos ao universo portuário de várias partes do mundo, como Buenos Aires, Nova York, São Petersburgo, Dublin e Hamburgo. A conversa sobre as obras poéticas e de ficção que mostram o trabalho portuário e as relações entre a cidade e o porto faz parte do Festival Arte & Trabalho, que ocorre até domingo, 7 de maio.

A atividade portuária, conta o pesquisador, foi descrita em romances, contos e poesias por grandes nomes da Literatura universal como Pablo Neruda, Elizabeth Bishop, Jorge Amado, Guy de Maupassant e Oswald de Andrade, sem contar nomes da cidade como Ranulfo Prata, Roldão Mendes Rosa, Narciso de Andrade e, mais recentemente, Adelto Gonçalves, Lídia Maria de Melo, Madô Martins, Flávio Viegas Amoreira e Alberto Martins.

Entre as diversas obras que tratam desse universo, o pesquisador destaca os romances “Barcelona Brasileira”, do jornalista, escritor e doutor em Literatura Adelto Gonçalves (1999), sobre as greves anarquistas de 1917, que fazem 100 anos, “Agonia na Noite” (1954), de Jorge Amado, que descreve uma greve em que os estivadores se recusam a embarcar café em um navio nazista, e “Navios Iluminados” (1937), de Ranulfo Prata, que mostra o calvário de um retirante do sertão da Bahia que tenta melhorar de vida como estivador no cais de Santos, obra que já contou com uma tradução para o espanhol publicada em Buenos Aires e que tem uma reedição recente, de 2015, feita pela Edusp, dentro da coleção Reserva Literária, que tem como “madrinha” a escritora e ex-presidente da Academia Brasileira de Letras Nélida Piñon.

“Dentro dessa abordagem que entrelaça História e Literatura podemos ler o romance ‘Navios Iluminados’, que apresenta os trabalhadores antes das conquistas trabalhistas dos anos 30, também com uma atualidade incrível devido aos recentes acontecimentos na sociedade brasileira e a aprovação da reforma trabalhista”, analisa o autor. Confira a programação completa do festival em: https://www.facebook.com/events/2085052901721361/. O Festival Arte & Trabalho foi criado pela Lei Municipal nº 3.143, que institui a Semana do Trabalhador.

O Mundo do Trabalho na Literatura Portuária
5 de maio, às 19 horas.
Casa da Frontaria Azulejada: Rua do Comércio, 92, Centro Histórico de Santos
Contato: Alessandro Atanes (13) 98122-98144

 

Facult: Repercussão das produções promovidas pelo edital desde 2010

Cerca de 300 ações artísticas foram financiadas pelo Fundo de Assistência à Cultura (Facult) de Santos nos últimos cinco anos. Desde sua regulamentação em 2010, ocorreram quatro concursos premiando 90 projetos com R$ 10 mil cada, que, por sua vez, tinham como contrapartida realizações gratuitas em, pelo menos, três locais em Santos (Zona Noroeste, Morros e Área Continental).

Mesmo que, neste período, algumas produções independentes não tenham sido realizadas pelos artistas da Cidade, outras foram espetáculos em curta e média temporada, como também festivais com diversas atividades. Uma das ações foi a segunda edição da Sansex – Mostra de Cinema e Cultura da Diversidade Sexual de Santos, evento fruto da antiga sessão Curta Cris de LGBT, ligada à programação do Curta Santos.

> Facult: A mobilização dos artistas em 2010
> Facult: As desventuras do edital até 2015
> Facult: Entrevista com secretário de Cultura

01“A Sansex foi a primeira ação na Região que abordou a cultura da diversidade sexual artisticamente, dando margem para outras iniciativas posteriores e agregou os agentes que atuam no segmento LGBT”, comenta o diretor Ricardo Vasconcellos. “Aliando discussão e inovação, o evento ofereceu ao público o melhor da produção nacional do gênero, incentivando novos realizadores e artistas locais a ingressarem ao tema”.

A programação contou com sessão de curtas-metragens e longas, espetáculos teatrais, debates, oficinas e ações públicas junto a outros órgãos, como plantões de orientação jurídica da Comissão da Diversidade Sexual da OAB-Santos e distribuição de preservativos e informativos sobre prevenção a DST e Aids. “Esta foi a nossa meta, inserindo cidadãos que sofrem a exclusão cultural do gênero, sem acesso a equipamentos públicos ou privados capazes de garantir o desfrute do conteúdo transformador que a arte e a cultura proporcionam”, finaliza Ricardo.

Eventos de artes gráficas e plásticas

04Outra produção que foi contemplada pelo Facult foi o 4º Salão Dino de Humor do Litoral Paulista. Na época, a co-idealizadora Márcia Okida dizia que, “de maneira geral, a participação internacional cresceu consideravelmente em relação aos anos anteriores”. Houve inscrições de obras do Uzbequistão, Turquia, Montenegro, China e Bulgária. “Tivemos contribuições das mais variadas regiões, desde a Tailândia até países da América do Sul”.

O responsável pelo evento, Alexandre Alves Valença Barbosa, detalha as atividades: “realizamos a exposição no Sesc dos trabalhos vencedores, itinerância de workshop sobre charges e humor, folheto explicativo, cartazes e premiação em dinheiro com troféu”. No entanto, “o que me marcou de forma negativa foi a falta de informação sobre como desenvolver o projeto (como a abertura de conta com CNPJ e não pessoa física), de forma a não prejudicar financeiramente o proponente”.

Lançamentos de CDs e shows

03Na edição seguinte, mais um projeto contemplado foi ‘Os choros, sambas e canções que a gente mesmo faz’, de Marcos Canduta. Tratava-se de um CD com músicas do artista junto de Julinho Bittencourt. “Fizemos algumas apresentações, mas acredito que o melhor resultado, ou o grande benefício para o público, tenha sido a produção de mais um CD com músicos e compositores locais”, ressaltando que o disco foi enviado para todo o país.

Marcos detalha as experiências do projeto, “a primeira sessão de gravação, ouvir o resultado da primeira master, a chegada dos CDs, etc. A experiência foi altamente positiva, e esperamos que esse projeto possa ser ampliado, pois é bastante importante para os fazedores de cultura em nossa região”.

Publicação de livros

05Também o Facult contemplou a publicação de diversos títulos, como ‘Memórias do Carnaval Santista’, de Jadir Muniz, ‘Jacinto, Sansão do Cais Santista’, de Sergio Willians, e ‘Esquinas do Mundo – Ensaios sobre História e Literatura a partir do Porto de Santos’. “Estou muito feliz por compartilhar minhas pesquisas”, entusiasmava-se Alessandro em seu primeiro livro autoral, na época, em entrevista de seu lançamento.

É muito nítida para o escritor a imagem do porto como uma esquina, um ponto de encontro dos viajantes: “Até a popularização do avião nos anos 50, as pessoas precisavam viajar de navio. E Santos, ainda importante pela grande produção de café, era uma porta de entrada para o Brasil”. Entre as evidências, cita artistas internacionais que, ao passarem pela Cidade, faziam turnês nas antigas boates da então Boca de Ouro (Centro Histórico).

Porém, aprecia mais a visita dos escritores estrangeiros. Por aqui desembarcaram navios com o suiço Frédéric Louis Sauser, o chileno Pablo Neruda e a norte-americana Elizabeth Bishop, todos recitando a Cidade em seus versos. Ciente das dezenas de obras ficcionais sobre o porto, o autor escreve 11 ensaios analisando tal relação: “As narrativas não relatam detalhes históricos, mas elas mostram a mentalidade das pessoas que viviam na época”. Portanto, ele vive a extrair história da literatura.

*Lincoln Spada

 

‘Esquinas do Mundo’ reata literatura e porto em ensaios

O porto em nossa Cidade interfere na rotina de milhares de contêineres, de centenas de trabalhadores e de um quarto da vida do jornalista e historiador Alessandro Atanes. Aos 40 anos, ele lança obra que rendeu uma década de estudos: ‘Esquinas do Mundo – Ensaios sobre História e Literatura a partir do Porto de Santos’.

“Estou muito feliz por compartilhar minhas pesquisas”, entusiasma-se Atanes em seu primeiro livro autoral, embora já tenha traduzido as obras ‘Voo de Identidade’ (do peruano Óscar Limache) e, em um único volume, ‘À Espera do Outono’ e ‘Viagens Imaginárias’ (do também peruano Javier Heraud), ambos pela editora artesanal Sereia Ca(n)tadora.

01É muito nítida para o escritor a imagem do porto como uma esquina, um ponto de encontro dos viajantes: “Até a popularização do avião nos anos 50, as pessoas precisavam viajar de navio. E Santos, ainda importante pela grande produção de café, era uma porta de entrada para o Brasil”. Entre as evidências, cita artistas internacionais que, ao passarem pela Cidade, faziam turnês nas antigas boates da então Boca de Ouro (Centro Histórico).

Porém, aprecia mais a visita dos escritores estrangeiros. Por aqui desembarcaram navios com o suiço Frédéric Louis Sauser, o chileno Pablo Neruda e a norte-americana Elizabeth Bishop, todos recitando a Cidade em seus versos.

Também há as “pratas da casa”, como Rui Ribeiro Couto, Roldão Mendes Rosa, Narciso de Andrade e os contemporâneos Madô Martins, Ademir Demarchi e Alberto Martins que entre seus repertórios, dragam o município com sensibilidade aos seus leitores.

“O que tem de textos sobre Santos, que não é uma capital, é um negócio absurdo”, surpreende-se Atanes. “Estou há anos pesquisando e sempre há um texto novo. Recentemente, encontrei um texto de Saramago sobre a viagem de um de seus personagens a Santos”.

02Ciente das dezenas de obras ficcionais sobre o porto, o autor escreve 11 ensaios analisando tal relação: “As narrativas não relatam detalhes históricos, mas elas mostram a mentalidade das pessoas que viviam na época”. Portanto, ele vive a extrair história da literatura.

Origem da extração

Quando adolescente, cresceu entre o Macuco e a Vila Mathias, assistindo de longe aos movimentos dos guindastes dos terminais. Escutava as histórias de seu tio e primo estivadores. No entanto, seu gosto pelo assunto começou em 2001, ao graduar-se no Mestrado em História Social pela USP. Encontrou parte de sua vida atrelada ao porto ao buscar contos da Cidade.

Ao se deparar com um catálogo feito pela historiadora Wilma Therezinha de Andrade de livros sobre o município, comprou em um sebo Navios Iluminados (de Ranulpho Prata) e, desde então, navega atrás de mais narrativas sobre o tema. A análise do romance gerou a dissertação aprovada em 2005.

A partir daí, de modo paralelo, pesquisava e escrevia em uma coluna do site Porto Gente (portogente.com.br). Leu dezenas de obras e reuniu 700 páginas de crônicas. As histórias também foram partilhadas nos últimos anos na Estação da Cidadania de Santos, onde ministra semanalmente um curso literário.

Faltava tornar suas análises palpáveis. Premiado pelo Fundo Municipal de Assistência à Cultura em 2012, debruçou-se no projeto de converter as crônicas em ensaios temáticos entre maio do mesmo ano ate o início de 2013. Prezando a densidade nos textos, ressalta: “prefiro confiar que as pessoas queiram aprender com tamanhas informações”.

Agora, eterniza seus registros em ‘Esquinas do Mundo’. Com 140 páginas, a publicação da Editora Dobra tem capa de Raphael Morone, com prefácio assinado pelo poeta Marcelo Ariel.

*Publicado originalmente em A Tribuna em 5 de abril de 2013

 

Biblioteca de Artes abriga eventos literários nesta sexta

O jornalista e mestre em história social Alessandro Atanes é o participante do projeto ‘O autor e sua obra’, nesta sexta-feira (dia 12), às 19h, na Biblioteca de Artes Cândido Portinari, no Cais ‘Milton Teixeira’ (Av. Rangel Pestana, 150, Vila Matias). No evento, ele descreverá o seu trabalho no livro ‘Esquinas do mundo: ensaios sobre história e literatura a partir do porto de Santos’.

A noite também será abrilhantada com o lançamento da tradicional revista literária Mirante, coordenada pelo poeta Valdir Alvarenga que con01ta com obras de vários autores da Região.

Além dos tradicionais autógrafos, o público poderá acompanhar a conferência ‘Vicente de Carvalho, cineasta’, que é tema do livro de Atanes, ministrada por ele mesmo com o uso de projeção de vídeo e cantação de poemas à guitarra.

O livro ‘Esquinas do mundo’ utiliza contos, romances e poemas como fontes de pesquisa para contar parte da história do Porto de Santos. Foi publicado pela Editora Dobra, com recursos do Facult (Fundo de Assistência à Cultura).

*Prefeitura de Santos