Do quarto chapado de pôsteres de bandas no Gonzaga para o estrelato no heavy metal britânico, Rodrigo Bevevino deu um pulo na carreira. Um salto de mais de três décadas que será celebrado em sua nova turnê como cantor da banda inglesa Abaddon. O ex-Avenger também integra o rock de Axxed Alysum.
Em seu aniversário de 7 anos, Rodrigo ganhou dois discos de seu padrinho. Trocou as canções inocentes do Balão Mágico para vibrar com os riffs violentos de Killers (Iron Maiden) e Creatures of the Night (Kiss). E ironiza sem dó: “joguei todos os outros discos pela janela”.
De início, a trilha sonora do quarto não animou seus pais, mas o garoto se aplicou ainda mais nas aulas bilíngues da extinta Escola Americana. Dedilhando a guitarra e o baixo na adolescência, compôs suas primeiras músicas aos 12 anos.
Todas em inglês, “porque o bom rock tem que ser inglês. A gente vai se condicionando à língua ao escrever a letra”. Esclarece que a inspiração dos versos não segue metodologias. “Penso, começo uma frase e já faço a música de uma vez”. Confiante, inaugurou o palco do ginásio do Colégio Estadual Canadá com seus colegas. Entre aplausos escolares, surgia a Megaforce em 1986.
Assim, o jovem roqueiro abreviou o sobrenome: Rodrigo BV. As batidas de sua banda ritmaram o primeiro disco demo Epidemic (1988). No ano seguinte, detonou no rock de Dr. Die. Em sequência, tocou solos nas bandas locais Big Fish, Carnal Desire e KvorK. Com o microfone na mão, ganhou espaço nos programas de auditório reverenciando em cover os famosos Judas Priest, Scorpions (com a banda The Ripper) e Nevermore (Born), apresentando-se sob os holofotes do Brasil afora.
Rumo à Inglaterra
Em 2008, largou a orla calorosa de Santos rumo às praias de 6ºC da Berwick-upon-Tweed, na Inglaterra. A opção pelo frio britânico não foi decorrência da música, mas para morar na mesma cidade dos sogros. Por lá, adotou o pseudônimo de Roddy B.
Diz não sofrer preconceito europeu. “Pelo contrário, eles elogiam bastante o Brasil. O tratamento é top. Só não entendem porque faço heavy metal se nasci na terra do samba”. Do outro lado do planeta, ele precisou reiniciar a carreira.
“Criei o BV.Inc, onde gravo músicas cantando e tocando todos os instrumentos”, comenta. Pelo notebook, sincronizou os sons nas faixas do seu CD virtual. Em uma semana, o projeto musical subiu ao topo do ranking de heavy metal num site de artistas independentes.
Em pouco tempo, arrepiou no baixo da Thick Skinned e migrou para a banda de covers Life Crisis, recebendo o convite da Maiden England de interpretar as canções do grupo que o inspirou na infância: o Iron Maiden. O tributo lançou-o a um novo patamar: tornou-se vocal da célebre The Avengers.
E em março de 2012, os fãs consagraram Roddy B em seu show de estreia na banda. “Costumo dar muito de minha apresentação, independentemente da quantidade do público”. Naquela vez, em Newcastle, era uma legião de 30 mil espectadores entusiasmados acompanhando em coro o repertório do santista.
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Cuidador de idosos nas horas vagas
Ser alto, voz potente e ter tatuagens pelo corpo são as raras semelhanças de Roddy B. com outros cantores do metal. Alheio a bebida alcoólica, cigarro e drogas ilícitas, ele nem gosta de som alto, principalmente quando está no volante. Entre risos: “Tento evitar ao máximo, porque, com o tempo, todo músico costuma se tornar surdo”.
Assim, resta três vícios ao vocalista: maçãs, água mineral – ele come até meia dúzia de frutas e bebe de três a quatro litros antes do show – e se dedicar a terceira idade. Se de noite ele é um rockstar, durante o dia, Roddy é um empenhado cuidador de idosos em uma clínica de repouso há quatro anos. Enumera os afazeres: “Ajudamos eles em seus exercícios físicos, damos banho, alimentação”.
Para ele, é mais difícil cuidar de 36 senhores e senhoras do que cantar para multidões. “Só que com eles, aprendi a ter compreensão, paciência”. Valores que reforçam o desejo de Roddy continuar na profissão. Sorte do seu filho, de cinco anos, que conta sempre com um pai capaz de oferecer o devido alento. “E ele curte rock, já está aprendendo bateria”, anima-se o pai coruja.
*Publicado originalmente em 5 de maio de 2013