Jovens jornalistas repensam a relação de mídia e artes na Baixada

Fotos de plateias lotadas de adultos ovacionando adolescentes no palco “manchetaram” as primeiras, as terceiras e as últimas páginas de A Tribuna, maior impresso da Baixada Santista por uma semana de junho de 1959. O sucesso de público do 2º Festival Nacional de Teatro dos Estudantes em Santos muito se deve à vontade da jornalista Patrícia Galvão e do seu marido, o chefe de redação Geraldo Ferraz – par que vivia a promover ciclos, seminários e saraus de artes.

06Por décadas, o jornalismo e ativismo cultural viveu em lua-de-mel com outros repórteres e colunistas na Baixada Santista. Além do casal citado, mais tarde o ex-coordenador da Escola de Artes Cênicas de Santos, Roberto Peres, concorria em críticas teatrais com Carmelinda Guimarães, repórter doutora em Teatro pela USP.

A rotina de Evêncio da Quinta misturava a redação e a direção de peças. O autor de novela Rubens Ewald Filho ainda hoje analisa filmes na imprensa. Colunas foram e são reservadas para o saudoso dramaturgo Plínio Marcos, a autora Madô Martins, o músico Julinho Bittencourt, o ex-secretário de Cultura Carlos Pinto, entre outros nomes.

01No entanto, um divórcio se esboça na década atual, justamente quando as redações economizam em matérias segmentadas e jamais houve tantas produções artísticas em todos os segmentos – do grafite nas ruas aos corpos estáveis dos teatrões. E qual o papel de quem herda este matrimônio, tanto nos veículos, quanto nas assessorias e blogs? As experiências foram partilhadas por um grupo de jovens na tarde deste domingo no Centro dos Estudantes de Santos.

“O que muito se conversa entre os produtores e artistas da Região é que os jornalistas já não mais participam da agenda cultural. Se no jornalismo esportivo, o profissional acompanha dos treinos aos jogos, no cultural não há essa troca, essa formação”, comenta o jornalista pós-graduando em Gestão Cultural, Lincoln Spada, com olheiras de ter produzido na véspera uma etapa do Mapa Cultural Paulista pela Secult de São Vicente.

04Com uma pasta repleta de entrevistas de funkeiros a artesões anônimos, o repórter do Expresso Popular, Júnior Batista, cita o desafio do jornalista em narrar as histórias. “Precisa muito estar atento à linguagem, ao jeito de atrair o leitor, ouvinte ou espectador para querer aquela matéria”. Aí vem a bufada coletiva de que poucos se destacam justamente pela criatividade em reportar. “Assim, cada década que passa, nossa profissão vai perdendo mais credibilidade”.

O reflexo é um surgimento de blogs e redes sociais para atender os anseios de públicos específicos. “Por um lado é ruim, é uma concorrência que muitas vezes não sabe informar. Mas por outro é bom para quem trabalha com blogs, já que alguns podem ganhar dinheiro e ingressos para shows. É um novo nicho de trabalho”, complementa Ivan De Stefano, assessor do Instituto Querô, Querô Filmes e, vira e mexe, sobra pontas em websérie ou curtas-metragens.

05Exemplo? “A Virada Ilegal bombou mais nas redes sociais que a Cultural neste ano, não?”, fala a assessora de imprensa também experiente em sets, Rachel Munhoz, aliás, diretora de videoclipes e documentários exibidos em mostras e festivais. “Na assessoria, também tem o desafio de quem contrata o jornalista entender que precisamos acompanhar a agenda do projeto, vivenciar junto, e também o timing da mídia”.

Na roda instigada pelo CES e pelo Fescete – Festival de Cenas Teatrais de Santos, ela continua: “A minha dica é que é fundamental que o assessor tenha uma boa rede de contatos com a imprensa. E participe mesmo de encontros e debates”. Vai que assim as artes voltem à ser manchete na região.

*Lincoln Spada

Autor: Lincaos

Jornalista, ator e cineasta, assessora festivais de manhã, escreve em jornais diários à tarde e aceita farras à noite.

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